Este texto foi escrito por Maurício Gieseler, para o Blog "Portal do Exame da Ordem"
Uma leitora do Blog me enviou ontem um anúncio bem interessante para os jovens advogados.
Reparem só:

Esse anúncio pode ser encontrado no link a seguir: Job Is Job
Na hora me lembrei, e não poderia ser diferente, de um post de 2013 aqui do Blog, quando eu tratei da figura do “advogado audiencista”, se é que isso representa algum tipo de especialidade, e do valor mínimo pago à época: R$ 20,00.
Essa publicação foi do dia 29 de outubro de 2013. Ou seja, de lá até aqui o valor mínimo pago para um advogado audiencista conseguiu contrariar até a inflação no período e foi REDUZIDO em 15% em pouco mais de um ano.
Incrível!
Recebi ontem também a seguinte mensagem de uma outra leitora do blog, via facebook:



Pois é…
Acham pouco? Vejam mais esta mensagem aqui:

São apenas uns poucos exemplos do que eu vejo e do que já cataloguei sobre a atual situação do mercado. Em suma: a profissão já entrou, e tem tempo, em um estado grave de precarização.
Isso não é algo localizado ou faz parte de um momento ruim da classe. Trata-se de um quadro que já vem de longo tempo e que NÃO MUDA com o passar dos anos.
Ao contrário! Os R$ 17,00 são apenas uma amostra da piora do contexto.
E eu bem sei que é assim porque EU mesmo, quando recém-formado, tive que me sujeitar a salários mixurucas, em nada diferentes dos que os recém-formados de hoje tem de enfrentar. Não só eu, como quase todos os meus colegas de faculdade que enveredaram para a advocacia. Outra parcela sequer tentou enveredar por este caminho e foi tentar a sorte no universo dos concursos.
Uns poucos tiveram sucesso, outros, acabaram por buscar ofícios desligados do universo jurídico. Não conseguiram ser assimilados nem pelo mercado e nem tiveram sorte no campo dos concursos.
Ou seja: estamos vivendo a precarização da profissão há uns 10 anos, no mínimo. E tenho suspeitas de que o contexto é mais antigo do que a minha experiência pessoal é capaz de atestar. Escrevo isso sem medo nenhum de errar.
Qual a causa disto?
No post O fundo do poço: a realidade de um mercado em que um advogado recebe R$ 20,00 para fazer uma audiência eu esbocei uma resposta:
“Eis um contexto funesto sobre as condições de trabalho de uma MASSA indefinida de profissionais que tentam sobreviver (sobreviver é diferente de viver) em um ambiente tão saturado.
Aliás, a saturação independe de quaisquer mensurações na prática, pois basta observar os valores praticados no mercado para se perceber a realidade da saturação.
Vamos entender o contexto!
O que regula os preços é a lei da oferta e da procura – Lex Mercatoria. O sistema remuneratório da iniciativa privada segue um princípio bem elementar do capitalismo: o valor está na raridade.
A regra é simples: muitos advogados no mercado = remunerações mais baixas.
Os preços a serem pagos são o resultado final de um embate entre o capital e o prestador de serviço.
O serviço só é remunerado se houver um acordo, e o valor irrisório de R$ 20,00 é o resultado de uma série de consensos contratuais estabelecidos de forma relativamente uniforme quando da prestação deste tipo de serviço.
Acham R$ 20,00 pouco? Na realidade ele é reflexo dos salários praticados hoje na advocacia.”
Acham R$ 17, oo pouco? Vamos ver como ele funciona hoje na lógica da proposta feita no anúncio.
Se efetivamente o empregador der 8 audiências por dia para o contratado fazer, ele receberá R$ 136,00 por dia de trabalho.
Isso, em 5 dias da semana representariam R$ 680,00.
E, durante um mês inteiro, R$ 2.720,00.
Uau! R$ 2.720,00 por mês até que não é tão ruim assim considerando hoje que a média salarial inicial é de R$ 1.200,00!
Será?
Primeiro eu imagino que 8 audiências por dia não seja algo 100% garantido, até porque o anúncio fala de “5 a 8″ audiências. Depois, fazer 8 audiências por dia é uma tarefa MUITO extenuante. Por quanto tempo alguém aguentaria uma batida pesada como esta?
Com certeza, no máximo, por uns poucos meses.
Para fazer caixa é preciso, seguindo a lógica do advogado audiencista, e sob este regime de contraprestação, se matar de trabalhar para ganhar um mínimo que assegure o sustento.
Nem preciso dizer que a rotatividade neste tipo de trabalho é altíssima. Pouquíssimos aguentam este rojão por muito tempo.
E o que pode ser feito?
Algumas coisas podem sim serem feitas para mitigar este quadro. Mas sobre isto irei escrever em uma outra publicação, a ser publicada na semana que vem.
Neste meio tempo, volto a repetir o que já escrevo há muito tempo: para triunfar é preciso ser diferente dos demais. Pensar diferente, agir diferente, ver mais longe.
Carreira depende de planejamento e de uma boa dose de ambição.
Ou faz isso ou vai ter de aceitar R$ 17,00.
Publicado originalmente no site: blog. Portalexamedaordem
Fonte: http://lunatenorio.jusbrasil.com.br/artigos/189788764/a-lei-da-selva-ou-r-17-00-por-uma-audiencia-ou-mais-uma-evidencia-do-colapso-da-profissao?utm_campaign=newsletter-daily_20150520_1196&utm_medium=email&utm_source=newsletter